FILHOS: a soma das partes é maior que o todo IV

Nada melhor do que o tempo para que a nova rotina seja assimilada e uma estabilidade comece a imperar. É bem verdade que esta estabilidade vem sendo edificada em um contexto de plena mudança, ou seja, pode-se dizer ser uma estabilidade adaptativa, na medida em que as experiências com o filho se apresentam ao casal. Novamente aqui (assim como pareceu acontecer na décima segunda semana de gestação), o número doze parece refletir uma passagem de etapas, em que as vivências com o filho parecerão ser mais significativas após seu primeiro ano.
Pode-se dizer que foi aprendida uma segurança ao longo deste tempo, capaz de gerenciar melhor ansiedades e cadenciar tomadas de decisão. Parte importante desta segurança talvez tenha vindo da falta de ações ou medidas a serem tomadas frente a certas situações, como em algumas pequenas intervenções médicas comuns a esta idade: de cólicas intestinais a infecções de ouvido. Podem não ser raras as oportunidades em que vem à tona sentimentos de impotência, em que nada efetivo parece ser cabível de ação, a não ser esperar o efeito do medicamento ou uma recuperação do organismo. Certamente o choro ouvido nas madrugadas pode gerar aflições, mas também devem propiciar um amadurecimento nos sentimentos, fortalecendo uma base emocional que poderá ser indispensável no transcorrer dos próximos anos.
O início de uma interação ativa do filho com os pais de primeira viagem parece recompensar (com juros) todos os monólogos vividos nos primeiros meses. Uma mistura de alegria com sentimento de dever cumprido, regado a muito orgulho, parece ser a melhor definição para esta etapa. As interações também facilitam muito processos antigos bem mais complexos, como o ato de alimentar, sanar a dor ou até acalmar algum medo. Esta fase também é a prova de que a linguagem verbal não é necessária, a não ser por um balbuciar de expressões cheias de sentido: é possível entender e ser entendido sem falarmos a mesma língua.
Noites mais bem dormidas, passeios mais demorados e, ao que tudo indica, uma nova rotina de fato se instaura. É bem verdade que os destinos de passeios são mais estudados e bem direcionados para as necessidades do menor, mas o sentimento de liberdade e autonomia ressurge, junto a uma responsabilidade de cuidar diferente, mas prazerosa.
A energia despendida ao filho diminui, há de redirecioná-la para recuperar velhos e bons hábitos ou investir em vivências duradouras da nova rotina. Parece ser, e é bom que seja, uma nova justaposição de foco voltada ao casal: afinal, esta entidade foi posta à prova num turbilhão de transformações e agora parece navegar por águas mais calmas. Mesmo que mais calmas, as águas pelas quais navega o casal, há de se destacar o casal de namorados, estão longe de rotineiras. Uma nova relação esteve em construção por todo esse tempo e, mesmo sem ter feito barulho ou poeira, refez caminhos, abriu muitas portas e parece ter edificado novas barreiras.
Além do tempo, muita coisa se passou. O que era não é mais e o que se esperava pode ter que ser reinventado. A gestação foi (e sempre será) um período bastante fértil para se planejar o futuro, transitando entre o mundo ideal e manter os pés no chão. Muitos planos parecem ter se concretizado e, mesmo que com adaptações, o realizado também parece ter superado o planejado. Não é raro que as avaliações do recente passado perpassem mais frequentemente por episódios de boas lembranças. O pensamento é seletivo e sempre trabalha para trazer o prazer, o que não significa que situações turbulentas não tenham gerado legado ou não ressurjam ao consciente. No entanto, as experiências adjacentes a convivência pai – filho – mãe, parecem sucumbir, ou simplesmente darem espaço ao que parece ser um novo sentido de valor: a relação pais e filhos. Neste contexto, diferenças e divergências dão lugar ao consenso e a tomadas de decisão mais maduras e imparciais.

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